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(A)medo, calçadas, pontes...por terras de Ansiães - 7 de novembro de 2015 Quando
vemos uma calçada, independentemente de saber a sua extensão,
ficamos logo com vontade de a fazer de bicicleta…
Pela análise do gráfico de altimetria, verifiquei que a partir dali e durante 7 kms iríamos subir. Começámos por entre algumas vinhas e depois de uma subida considerável, chegámos à localidade de Amedo. Pela subida o Zé foi-me falando, do estudo prévio da região, o que iríamos ver nas diferentes localidades. Ultimamente é ele que se tem ocupado destas coisas porque vamos repartindo o trabalho, quer o prévio, quer o posterior aos passeios.
Antes de chegar a Amedo, ainda passaríamos na primeira das 4 pontes do dia, a Ponte do Torno, sobre a ribeira da Regada.
Ponte do Torno
Já na localidade de Amedo, o objetivo era encontrar a "... chaminé no telhado de uma casa apalaçada e com vários chalés, em cantaria, que é o monumento mais típico da freguesia de Amedo. Com efeito, ali está esculpida a caricatura de uma cara alargada e com expressão a indicar medo, semi-carnavalesco. Chamam-lhe a "Figura do Amedo"." in (http://www.cm-carrazedadeansiaes.pt/freguesias/amedo.html) Logo ali ao lado pudemos encher os bidons de água muito boa na Fonte do Paço. Igreja Matriz de Amedo
"Figura do Amedo"
Fonte do Paço - Amedo
À saída de Amedo, em direção a Misquel, um diospireiro encontrava-se carregado de fruta que ninguém apanhou.
Já nas proximidades de Arnal vimos qualquer coisa que nos tocou imenso, pelo desperdício…hectares de pomares de maçã abandonados com toda a fruta a apodrecer no chão… provámos uma maçã e que boas eram…!
Daí, seguimos para a localidade de Linhares, com o nevoeiro a adensar-se cada vez mais. Linhares foi outrora local importante pelos monumentos ali existentes, o seu pelourinho, a ponte românica (que o Homem estragou) e a fonte medieval. Ainda em Linhares, pudemos parar e apreciar o imponente brasão do Solar de Sampaio, muito bem conservado a nível de fachada principal. À porta, estava a apodrecer num reboque um barco que provavelmente serviu para uns passeios no Douro.
Fonte Medieval do Carvalhal - Linhares
Solar de Sampaio
A saída de Linhares deu-se por um caminho singular entre paredes, com piso rochoso. Daí, seguimos para a localidade de Marzagão e, pelo caminho, o Zé ia-me dizendo que julgava ver aquela zona cheia de árvores, pelo menos era essa a imagem do GE…mas não, tinha ardido tudo há relativamente poucos anos e as árvores, a apodrecerem e tombadas pela força do vento sobre o caminho interrompendo o trilho, fizeram-nos pegar nas bicicletas e atravessá-las. Pelo caminho pudemos verificar termos de demarcação dos limites de freguesias.
Ao chegar à localidade de Marzagão atravessámos mais uma ponte, desta feita a terceira do dia, a Ponte Romana, conhecida também pela Ponte do Galego que atravessa a ribeira de Linhares. Por uma questão de proteção da ponte, fizeram, e muito bem, uma passagem paralela a fim de evitar que veículos mais pesados a atravessassem. Ponte do Galego
Ainda em Marzagão passámos na bonita igreja de S. João Batista. Igreja de São João Batista - Marzagão
Rapidamente descemos ao vale que por sua vez nos levaria a mais uma imponente subida até ao Castelo de Ansiães. À medida que se subia por entre uma floresta de sobreiros e castanheiros, o nevoeiro ia-se dissipando, até que, quando chegámos às imediações do castelo pudemos ver pela primeira vez o sol!
Antes de entrarmos nas muralhas do castelo passámos pelas sepulturas mesmo ao lado da igreja de S. João Batista, e apreciar a arquitetura religiosa pré-românica e gótica. Igreja de São João Batista
Entrámos
entretanto nas muralhas do castelo e fomos até bem lá ao
cimo, junto da igreja de S. Salvador de Ansiães em ruínas. Castelo de Ansiães +info
Igreja românica de São Slavador de Ansiães
Descemos do castelo para rumar até Carrazeda de Ansiães. Desde o fundo da colina a aproximação a Carrazeda fez-se num plano ligeiramente a subir e, talvez o mais “pesado” do dia devido à muita lama e zonas com água ao atravessar toda aquela zona de terrenos de cultivo e pomares. Em Carrazeda parámos para abastecer numa pastelaria num recanto quase invisível antes de subir para Samorinha. Os proprietários da pastelaria perguntavam-nos qual era o nosso destino…falámos em Freixiel e depois Pombal. Lá nos foram dizendo que para Freixiel descia mas para Pombal…que teríamos de pedalar bem.
Em Zedes passámos ao lado de um monumento megalítico designado localmente com o topónimo Casa da Moura – A Anta de Zedes, muito bem conservada. Anta de Zedes
Desde
aí descemos para o vale da Cabreira por entre afloramentos graníticos
de singular beleza. Ainda parámos uma ou outra vez para nos fotografar
e para nos rirmos, porque fazíamos de alguns imagens de filmes…colocamos
a imaginação a funcionar e cada um ía dizendo o que
cada rocha nos fazia pensar.
Depois de passar a ribeira da Cabreira começámos a dura ascensão até lá ao cimo onde, a meio da encosta começaram a aparecer vestígios da calçada do Mogo. Paro e olho… tenho de tirar bem as medidas à coisa porque as pendentes eram altíssimas, por momento a mesma não descia dos 18/20%. Sabia, pelo que trazíamos que ainda nos faltavam mais duas subidas dignas de respeito e não poderíamos deixar tudo ali, estávamos muito longe do carro e da localidade, um sítio inóspito com o trilho a fechar-se pela vegetação que nos obrigou a desmontar e fazer parte da subida com a bicicleta à mão, coisa que, a nível físico, é muito mais cansativo e desgastante.
Calçada do Mogo
Entretanto, a coisa compõe-se e eis que estamos a chegar à aldeia…sabia que viria ali a descida mais longa do dia que nos conduziria ao concelho de Vila Flor mas, antes disso, ainda tivemos tempo para fazer uma fotografia junto ao moinho de vento de Mogo de Malta. Moinho de vento - Mogo de Malta
A descida para Freixiel fez-se a grande velocidade porque os trilhos convidavam a isso…seguia à frente e o Zé por momentos aproximou-se e ainda me disse que não era conveniente arriscar tanto mas eu estava a gostar da descida, a bicicleta estava a ter um comportamento exemplar, fruto de uns acertos no amortecedor e, para além disso, ainda faltavam uns kms para terminar, sendo aquele um bom momento para aproveitar e "ganhar algum tempo".
Antes de Freixiel ainda apanhámos um bom pedaço de calçada…em alguns locais da mesma já colocaram cimento…!!! para que as pedras se mantenham…
Na aldeia de Freixiel, subimos novamente um troço de calçada até uma elevação onde está situada a forca de Freixiel, um dos raríssimos exemplares ainda existentes em Portugal. A forca medieval está instalada num pequeno promontório rochoso, onde era executada a pena capital através de garrote. Depois da execução, o cadáver do condenado era exposto na forca, ficando dependurado pelo pescoço…na informação contida na placa que se encontra junto ao monumento, podiam ler-se os crimes puníveis com pena de morte...olha se fosse hoje...!
Antes da subida que nos conduziria a Folgares, ainda fomos até junto da fonte romana da localidade abastecer água para a penúltima subida do dia…que dureza! Fonte Romana - Freixiel
Pelourinho - Freixiel
O sol estava baixo e como pedalávamos na sua direção, por vezes era um estorvo porque não se conseguia ver o trilho, (parte dele novamente em calçada),ou seja, o sol batia no “pára-brisas” e não tínhamos pala do sol… teríamos de procurar água na localidade próxima porque os níveis de líquidos baixaram nos bidons… entretanto, ao sair do trilho na aldeia deparámo-nos com um casal que conversavam com uma senhora já de idade. Perguntámos se existiria por ali algum fontanário, e claro, despertou-lhes a curiosidade de verem por ali dois “artistas” com as bicicletas todas enlameadas, de mochila às costas e salpicados de lama seca…quiseram saber de onde vínhamos e, quando lhes dissemos que vínhamos de Freixiel eles admirados questionaram: “ E vieram pelo caminho velho em vez de virem pela estrada...? Ui… ui…” quando lhes dissemos que iríamos para Pombal disseram-nos para seguirmos a estrada que já não é muito longe, logo encontraríamos uma fonte, no entanto, o track mandava-nos para o lado oposto, ou seja descer mais uma vez para ver a última ponte do dia e subir novamente para Pereiros. Pedimos-lhes água e prontamente nos facultaram a mangueira que estava ali ao lado do portão de entrada.
Quando
começámos a descer, o Zé mete água à
boca e diz que não era grande coisa…era só o que faltava…pensei
para mim...Ainda teríamos mais uma subida pela frente…mas
era preferível aquela que fazermos a subida completamente a "seco". Ponte das Olgas
Fizemos a ascensão para Pereiros onde, mesmo ao lado da igreja, vemos um senhor a encher uns garrafões de água num fontanário…que alívio…! Parámos, bebemos e enchemos novamente os bidons para o que restava do percurso. Em Pereiros estivemos parados durante uns bons 10/15 minutos porque o senhor que estava encher os garrafões, aparentemente reformado, fez questão de nos contar um pouco da sua história de vida, dizendo que saiu da localidade com 16 anos para Lisboa, fizera tropa no ultramar e agora, sempre que pode, volta à aldeia porque adora as suas raízes. Este é mesmo o nosso espírito quando saímos para pedalar; parar, conversar com as pessoas e “viver” por momentos curtíssimos com elas nas suas localidades…
Igreja Matriz de Pereiros
Depois de Felgueira e Pinhal do Norte, chegámos a Pombal de Ansiães, altamente consoladinhos…As bicicletas pareciam trazer kgs de terra, a transmissão vinha completamente suja e desgastada da muita terra e areia que levou durante todo o dia.
Em
suma, passeio durinho qb…para além da muita lama/água
nos trilhos que o tornou bastante pesado, apanhámos um terreno
muito acidentado, onde tivemos, nos 73 kms de percurso, para além
de outras, 6 kms de subidas entre 10% e 15%, 3 kms entre 15% e 20% e 1
km a mais de 20% com um total geral de 2400m de desnível de acumulado
positivo.
*Aconselha-se o visionamento do vídeo em HD
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