Pelas calçadas e pontes do Douro - 04 de abril de 2015

Depois de algum tempo a “cozinhar” este percurso, analisando documentos, fazendo alguns contactos, a preciosa ajuda do Google Earth, incursões a pé a alguns dos locais e, finalmente, duas voltas na bicicleta a fim de testar alguns trilhos, arranjámos uma volta nas encostas do Douro, Património da Humanidade, com aquilo de que gostamos: pontes, calçadas, trilhos entre vinhas e um bom acumulado.
Há uns anos a esta parte o Rui Appelberg visitou o nosso território, atravessando as linhas do “reino de Jales” sem que soubéssemos de tal incursão. Aproveitou a ausência do inimigo, foi colecionando várias pontes. Entretanto, em “jeito provocatório” partilhou as fotografias de alguns dos locais sem ter dado conhecimento escrito do nome dos mesmos…reconhecemos o nosso território e, nessa mesma altura ficou a promessa da sua parte de nos visitar.
Era altura de fazermos tréguas às investidas nas pontes surgindo a ideia de apresentar uma volta inédita por nós desenhada ao inimigo. Esta volta assentava-lhe na perfeição, pois na vastíssima coleção de pontes que fazem parte do seu "Apontementos – Pontes Antigas de Portugal", ainda não constavam 2 das 5 pontes do dia.
As datas do “encontro” foram lançadas e o dia escolhido foi o dia 4 de abril, sábado de Páscoa. Acertámos o local do encontro, em Jales. Por volta das 9h da manhã já ele estacionava a sua bicicleta no parque privativo que estava livre junto à igreja de Cadaval (Murça). Embora o ponto de partida estivesse estipulado no Pópulo, muito rápido se chegou ao consenso de o iniciar ali, porque faríamos os últimos kms a descer e neste tipo de passeios, sabe sempre bem acabar com uma descidinha….. Aí começaria então a aventura…!
De imediato descemos até Murça pela já conhecida e imponente via romana que nos faria atravessar o Tinhela para, por sua vez, subir até à vila de Murça para daí rumarmos até Noura.

Entre Noura e Sobredo aparece-nos a primeira ponte do dia sobre a ribeira de Noura, pequena mas bonita e bem conservada e que neste momento serve somente os proprietários de alguns terrenos contíguos.

 

Depois de descermos ao rio Tinhela e atravessarmos o mesmo numa zona de lazer, subimos para Pegarinhos onde nos esperava uma outra, a Ponte de Magusteiro, permitindo a travessia do regato do Souto. No dia do reconhecimento, quando ali parámos, um dos proprietários de um terreno mesmo ali ao lado ofereceu-nos umas laranjas que muito bem nos souberam…neste dia voltámos a provar o seu suculento sumo.

Seguia-se uma subida até muito próximo de Casas da Serra que por sua vez nos levaria à localidade de Carlão. Este era a única parte do percurso que ainda não tinha sido reconhecida mas fez-se bem, embora houvesse bastante pedra solta aliada a um piso seco onde a acumulação de areia nas curvas se tornava bastante perigosa.

Desde Carlão até à localidade de Amieiro por entre conversa e apreciando a vegetação florida e a sua envolvência, eis que mais uma calçada nos aparecia pela frente na descida para a localidade de Amieiro. Um agricultor que por ali estava quando passámos foi-nos dizendo que aquele caminho não era muito propício para bicicletas, coisa que a gente não esteja habituada a ouvir…ao fundo corria o rio Tua. Conforme as bicicletas passavam levanta-se alguma poeira que incomodava quem vinha mais atrás.

Já na localidade de Amieiro aparecia-nos um obstáculo com uma descida acentuada em escadas….o Zé lembrara-se da queda que sofrera aquando do reconhecimento na região de Favaios e decidiu não arriscar, já eu, lá segui atrás do Rui que me transmitia uma técnica e segurança apuradas pelos degraus abaixo.
Depois de Amieiro, sabíamos que viria uma das maiores dificuldades do dia, a subida até Safres em calçada, com pendentes fortíssimas (30%) que nos obrigava a encostar praticamente o queixo ao avanço da bicicleta e por vezes por o pé no chão.

Já em Safres, voltámos a intercetar mais um troço da via romana que nos levaria até S. Mamede de Ribatua. A coisa foi-se fazendo nas calmas, até que chegados ao alto, numa zona de pinhal, pudemos acelerar qb. por ali abaixo até à ponte romana de S. Mamede.

Era hora de parar e comer porque, até ao habitual pão de Favaios, ainda faltavam uns kms.
Desde S. Mamede voltámos a subir até Favaios.

Tínhamos passado a meio da semana de roda fina em Favaios e, depois de parar num café contíguo à estrada para lanchar, o proprietário meteu conversa connosco. Lá lhe dissemos que iríamos voltar a passar por ali sábado de BTT, mas que para repetir o lanche, teríamos de fazer um desvio…pôs-nos logo à vontade e disse-nos que depois da Quinta de S. Jorge havia um caminho que vinha mesmo dar a um atalho privado até ao seu café…poderíamos por ali passar, assim fizemos para comer o pãozinho de Favaios e hidratar. Mas, antes de chegarmos ao café, passámos pela Quinta de S. Jorge, uma quinta enorme com as vinhas aproveitadas e tratadas, o mesmo não se podia dizer das casas…

 

Ainda deu para ver uma estela funerária romana encaixada na parede exterior da capela da quinta.

Depois de Favaios seguimos para Sanfins do Douro, onde mais uma calçada e uma ponte nos esperavam, a Ponte e Via Romana de Rio de Moinhos.

Entre Sanfins e Vilar de Maçada viriam mais duas dificuldades, aliadas ao calor…foi talvez o momento mais quente, se bem que até comentámos que correu durante todo o dia uma brisa agradável.

Ainda deu para molhar os pés ao atravessar uma linha de água e que bem soube…!

Depois desta linha de água e até Vilar de Maçada foi sempre a “ripar” e que calor…entre muros…a subida nunca mais terminava.

Já na localidade pudemos ver um pequeno pontão onde o Zé se divertiu a passar duas vezes.
Dali, o destino seria Vila Verde, para fazer mais uma calçada romana…!

Antes passámos por uma sepultura antropomórfica de Sobredos e, já em terreno mais agreste, em zona planáltica lá chegámos a Vila Verde. Esta foi uma via romana que visitámos propositadamente num domingo à tarde e pode-se dizer que foi aqui que “nasceu” o percurso deste passeio.
Ao descer a calçada deparámo-nos com duas cancelas que tapavam a via, talvez para os animais de 4 patas não fugirem. Descemos a via com todo o cuidado porque a folhagem tapava grandes ratoeiras e buracos entre as pedras.
Depois da exigente descida, inesperadamente, porque uma alteração ao percurso tinha sido feito no dia anterior, surge mais uma calçada em direção ao Pópulo, foi mesmo a cereja no topo do bolo, se bem que naquele momento, já se dispensava a dita cereja, até porque por estrada se poderia ter feito o percurso mas…não seria a mesma coisa!

Foi um dia fantástico e, durante todas estas horas de pedalada e convívio final, deu para conhecer melhor o Rui Appelberg e “tirar-lhe o chapéu” pelas aventuras já conquistadas em bicicleta, é sem dúvida um amante das pedaladas e sobretudo das pontes antigas.
São pessoas como ele que também nos dão a força capaz para cada vez mais amarmos este desporto e tentarmos novas conquistas, desafiando algumas das vezes os nossos limites.
A próxima (grande) aventura deverá ocorrer no início de maio…

 

 

*Aconselha-se o visionamento do vídeo em HD

 

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